Carta do editor
Há 15 anos a serrote insiste no arrojo de especulação, próprio do ensaio, como valor privilegiado do debate intelectual. Entre clássicos e novíssimos, estreantes e consagrados, brasileiros e estrangeiros, temos navegado por latitudes pouco usuais. ¶ É, portanto, a pluralidade que esta edição de aniversário comemora ao publicar, pela primeira vez na concepção original, com os desenhos, a estupenda leitura que Roland Barthes faz de Saul Steinberg. ¶ O ensaio como exercício de admiração também ecoa no retrato de Prince por Hilton Als, um dos mais originais críticos culturais em atividade. ¶ Em “A condição sem nome”, Djaimilia Pereira de Almeida, cuja trajetória é para nós inseparável da revista, nutre com memórias familiares uma contundente análise sobre a ideia de “mulata”.¶ Unindo ousadia especulativa e formal, Alejandro Zambra e Andrés Braithwaite fazem de “Um conto de Natal” uma comovente reflexão sobre a amizade e a relação entre escritor e editor. ¶ Os conceitos de “pretagogia” e “desapropriação” da escrita, explorados por Andréa Hygino e Cristina Rivera Garza, apontam na arte e na literatura caminhos virtualmente inexplorados e roteiros longe do previsível, uns e outros essenciais para traçar nosso percurso até aqui.
Paulo Roberto Pires