Carta do editor

As ideias de responsabilidade e culpa permeiam os ensaios que abrem e fecham esta edição. Nas reflexões de Evandro Cruz Silva e da dupla Natalia Carrillo e Pau Luque, consciência política é tão mais consistente quanto distanciada de engajamento emocional e das proverbiais boas intenções. ¶ “Mesmo que eu o visse como ‘um de nós’, aquele moleque preto com uma arma na mão era meu inimigo de classe”, escreve Silva, que parte de um assalto sofrido em Salvador para refletir sobre a complexidade e os percalços na consolidação de uma classe média negra intelectualizada no Brasil. ¶ “Hipocondria moral” é, a partir do título, uma provocação dos autores à combinação de “decência e narcisismo” que marca um comportamento típico das classes médias em sua participação no debate público. ¶ “A culpa é imputada pelo que se faz; a responsabilidade, não apenas pelo que se faz, mas também pelo que não se faz”, escrevem Carrillo e Luque a respeito da distinção proposta por Hannah Arendt. “Contudo, culpa e responsabilidade costumam ser confundidas: às vezes nos sentimos culpados quando, na verdade, o que estamos sentindo é o chamado da responsabilidade.”

Paulo Roberto Pires