Carta do editor

Além do bem e do mal há um poderoso elemento na disputa pelo destino do mundo: a estupidez. A “terceira força”, analisada aqui por Garret Keizer, perpassa os discursos de ódio e submissão com que se enfrentam, de diversas formas, os autores reunidos nesta edição. ¶ “A minha negritude é drama cerebral e não festa do quarteirão”, escreve Djaimilia Pereira de Almeida em “O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo”, ensaio-manifesto que dá protagonismo a questões políticas e existenciais do embate com o racismo. ¶ Recuando três séculos, Henry Louis Gates Jr. e Andrew S. Curran investigam as origens das teorias científicas da discriminação e, em “Could you be loved?”, Paul Gilroy articula biografia, crítica e história para celebrar o gênio de Bob Marley e sua “antipolítica”. ¶ Na contramão de qualquer otimismo possível, Alain Badiou faz de “Considerações sobre a desorientação do mundo” uma análise impiedosa e controversa das estratégias contemporâneas de contestação. ¶ Restam poucas dúvidas de que a “era da estupidez” é um dos tantos nomes do mal, como dá testemunho Michel Gherman, que a partir de minuciosa pesquisa expõe a agenda ostensivamente nazista sob o folclore da grosseria bolsonarista. ¶ “Se não podemos combater a estupidez ou suas causas”, escreve Keizer, “podemos ao menos tentar.

Paulo Roberto Pires