Carta do editor

Nesta edição, a serrote ecoa a máxima de que a França inventou o ensaio e a Inglaterra, os ensaístas. Do clássico William Hazlitt a Adam Phillips, passando por Max Beerbohm e John Berger, os essayists ingleses deram o tom para o gênero tal como o conhecemos. Esta é, pelo menos, a hipótese de Lucia Miguel Pereira, uma das primeiras leitoras dessa tradição entre nós, que assim define seus praticantes no preciso texto da década de 1950 que publicamos: “Ensaísta é, afinal, qualquer escritor que se coloque diante das ideias como o legítimo britânico diante da vida – deixando-se guiar mais pelo senso comum, essa mistura de instinto e experiência, do que por leis e regras, prezando a liberdade mais do que a autoridade, sem contudo desrespeitar esta última quando bem assente, conciliando com o espírito de aventura uma prudência realista, evitando com igual cuidado os exageros e a gravidade”.¶ É neste fio da navalha que caminham Joseph Mitchell com as memórias do campo de sua infância, Charles Juliet e os silêncios de Samuel Beckett e Laura Erber, quando discute o negligenciado papel das mulheres no mercado da arte.¶ A liberdade é ainda o valor máximo para Joseph Brodsky e Alejandro Zambra na sempre acidentada literatura de viagem, campo minado pelo familiar e extraordinário onde, como eu mesmo posso atestar, todas as bússolas são inúteis.

Paulo Roberto Pires