Carta do editor
A serrote chega ao número 20 de cara nova. As mudanças, como o leitor pode perceber, são sutis – o que não quer dizer que optamos, gattopardianamente, por mudar para que nada mudasse. Uma revista como esta, a meio caminho entre a imprensa e o livro, aqui e ali precisa de reajustes para que não penda para um lado ou para o outro: nesta corda bamba está sua graça, assim como nela está a graça do ensaio, sempre no fio da navalha entre o geral e o particular, entre o voo panorâmico e o mergulho. ¶ Títulos mais fortes e páginas mais flexíveis aproximam o projeto de um dos princípios fundamentais do ensaísmo, gênero em que a forma deve, sempre que possível, refletir o que o conteúdo tem de singular. O formato permanece o mesmo, assim como a ideia de que, na revista, imagem é menos ilustração do que interlocução com texto.¶ É com esta certeza que editamos como ensaio 40 nego bom é 1 real, obra de Jonathas de Andrade concebida para as paredes de galerias e museus e que, assim repaginada, desdobra de outra forma a dura crítica do artista alagoano aos clichês ideológicos e estéticos que historicamente se sobrepõem ao Nordeste do país. ¶ Para marcar o número redondo de uma revista criada há seis anos, contamos a história de uma outra que nunca existiu. Ou melhor, existiu nos planos de jovens críticos de cinema cariocas e, concretamente, no projeto que Amilcar de Castro criou para eles em 1963. Com a palavra, um daqueles entusiasmados intelectuais, Sérgio Augusto, que há pouco encontrou em seus arquivos o leiaute de Cinema Hoje, documento pouco vincado pelo tempo que aqui publicamos como homenagem e epígrafe à primeira serrote do resto de sua vida editorial.
Paulo Roberto Pires