Carta do editor
Redes de paradoxos
Imagens caóticas em bombardeio constante, julgamentos sem Justiça e zumbis hiperconectados e anestesiados. Estes poderiam ser elementos de mais uma distopia do presente, mas estão no centro de três ensaios que, nesta serrote, buscam compreender o presente em cima do lance, com todos os riscos que isso representa. ¶ Alemã de origem japonesa, a videoartista Hito Steyerl analisa o papel das imagens de baixa definição, amadoras e “ruins” como um instrumento de crítica possível ao mundo em HD – e, paradoxalmente, como combustível para os grandes mecanismos de circulação de imagens e capital. ¶ Não menos ambígua, entre o culto da futilidade e o ativismo, as redes sociais são cenário de uma denúncia de assédio que, para Francisco Bosco, expõem a gritante desigualdade de gênero do Brasil e, também, o que pode haver de autoritário na idealizada democracia digital.¶ Este mundo acelerado e saturado, argumenta o filósofo alemão Christoph Türcke, fez do impulso humano à repetição, civilizatório em si, uma anestesia da criatividade. Como contraponto ao que chama de “cultura do déficit de atenção”, ele sugere todo tipo de freio, de parada.¶ A serrote se une a Türcke, oferecendo 12 ensaios que, de Miró a Miami Vice, passando por Baudelaire e um inédito de Silviano Santiago, convidam à utopia possível, que é a pausa para reflexão.
Paulo Roberto Pires