Carta do editor

Ensaio, presente, futuro

A peculiar bússola do ensaísta deve ter como norte tanto os fatos, que circunstanciam a História, quanto a especulação, forma de sondar a precariedade do presente e o futuro próximo. Em sua grande forma, portanto, o ensaio faz dessa dualidade um farol que ilumina o passado com imaginação e aponta para frente com a solidez do que é tangível.¶ Daí o interesse das colaborações dos dois Richards desta edição, o Sennett e o Nash, e do clássico de Alexandre Eulalio aqui reeditado.¶ Em “Humanismo”, um dos melhores ensaios americanos de 2012, Sennett aponta os limites do mundo onde vivemos pelo paradoxo que ele gera: quanto maior a complexidade tecnológica, mais rudimentares as relações humanas, do trabalho à comunicação.¶ Essa realidade em mutação é vista por Nash a partir do universo editorial, de um ponto equidistante dos fetichismos do impresso e do digital, extremos de uma mesma e estreita visão do livro como objeto de exceção.¶ No sentido contrário, o de investigar as possíveis origens de um fenômeno, Alexandre Eulalio (1932-1988) percorre 200 anos de história intelectual para entender como a viagem do ensaísmo, de Montaigne ao Novo Mundo, explica a peculiaridade do gênero entre nós.¶ A serrote publica ainda o primeiro inédito de Joseph Mitchell revelado em muitos anos, esboço de autobiografia jamais concluída que confirma como fato e imaginação são um mesmo caminho para a inteligência.

Paulo Roberto Pires