Carta do editor
Saber, sabor
Muito antes de Roland Barthes lembrar a origem comum de e sabor, Paulo Rónai fazia desta proximidade etimológica um método de trabalho. É o que atesta o ensaio, até hoje inédito, que publicamos não apenas pela originalidade com que lê Balzac, mas também, ou sobretudo, pela síntese nada menos que perfeita entre erudição, bom humor e uma hipótese original.¶ Igualmente erudito e amante da simplicidade era Charles Rosen, pianista e ensaísta morto no final de 2012. Perspectiva histórica e especulação nas doses corretas constroem o argumento sobre como, entre a partitura e o espetáculo, a música se estabelece como patrimônio em constante transformação ao longo dos séculos.¶ O estatuto da criatividade no mundo de hoje está nos ensaios de Kenneth Goldsmith, que mostra o quanto a literatura tem a aprender com as artes visuais, e de Fredric Jameson, em sua leitura rigorosa da pretensão de universidades em formar escritores.¶ No reverso da assepsia acadêmica apontada pelo teórico marxista, Michael Wood e Colm Tóibín lembram de que forma enviesada as famílias de Marcel Proust e John Cheever inspiraram suas obras.¶ A variedade de temas e abordagens tem seu denominador comum no saber e sabor reconciliados, um dos sentidos possíveis, aliás, do ensaísmo que vale a pena.
Paulo Roberto Pires