Carta do editor

Perdidos e achados

Lynd Ward fazia graphic novel nos anos 1930. Na década seguinte, Robert Warshow enxergava em Hollywood algo mais que a indústria. Ambos pagaram pelo pioneirismo e, depois de longo ostracismo, ganharam o reconhecimento merecido.¶ É desse gênio extraviado das artes gráficas a ilustração da capa desta serrote, que a ele dedica um ensaio visual comentado por Art Spiegelman. De Warshow, morto aos 37 anos, a revista traz um texto fundamental que faz ver no gângster o protótipo do sonho e das frustrações americanas.¶ “Contra os poetas” é, também, uma joia perdida. Obscurecida pela obra exigente de Witold Gombrowicz, reflete a solidão radical deste autor exilado por princípio, que, escrevendo em polonês entre a Argentina e a França, fez da deriva modo de vida e de criação.¶ Mais que escolha, a solidão é o elemento da inteligência, lembra George Steiner em “Dez (possíveis) razões para a tristeza do pensamento”, um irretocável ensaio clássico que bota a filosofia num ponto equidistante entre a erudição e o arremedo de autoajuda.¶ O bom ensaísmo tem, no entanto, que viajar ao passado e encarar o presente com o mesmo destemor. E é isso que faz Pedro Meira Monteiro ao dissecar a polêmica entre Caetano Veloso e Roberto Schwarz, Jonathan Lethem na defesa de uma cultura de trocas e remixes e, finalmente, Wayne Koestenbaum em impiedoso retrato da humilhação nossa de cada dia.

Paulo Roberto Pires