Carta do editor
No meio da rua
Devidamente vacinado do imediatismo, o ensaio tem muitas vezes por obrigação abocanhar a realidade mais próxima. Foi nesse espírito que, uma semana depois das terríveis enchentes de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, propusemos ao fotógrafo Edu Marin embarcar para a região serrana fluminense. Não queríamos mais uma reportagem, pois delas estávamos muito bem servidos. O que propúnhamos era um olhar mais livre sobre o pior desastre natural da história do Brasil. ¶ O conjunto de imagens, da capa a um ensaio de 32 páginas, é uma lente de aumento sobre o detalhe da tragédia. Nelas, não aparecem explicitamente a natureza e sua ação devastadora, e muito menos as vítimas. Há, isso sim, vestígios de violência, marcas de vidas interrompidas de diversas formas. São imagens eloquentes, que não precisam de nenhum tipo de explicação. ¶ A realidade imediata também está no balanço dos anos Kirchner feito por Beatriz Sarlo, que antecipou com exclusividade para a serrote o capítulo dedicado à política nas redes sociais de um livro sobre a última década da Argentina. ¶ Jonathan Franzen, que ganhou uma precoce capa da Time como um dos romancistas do século por Liberdade, romance que será publicado este semestre no Brasil, aparece aqui de forma menos bombástica e mais pessoal na tradicional série de entrevistas com escritores da The Paris Review. ¶ Igualmente íntimo é “Sobre ser filho único”, em que o inglês Geoff Dyer faz de sua vivência familiar uma ponte com a experiência do leitor. Brilhante e agudo, Dyer traz para a serrote o ensaio pessoal, gênero sólido no mundo anglo-saxão e pouco difundido entre nós.
Paulo Roberto Pires