Carta do editor
Afinidades
Afinidade, mais do que objetividade, é o critério principal da edição da serrote. Neste sexto número, reafirmamos este princípio, guiados pelo mais severo dos editores: a intuição.¶ E a Veneza de Giorgio Agamben puxou a de Martin Parr, o elogio da mão de Henri Focillon encontrou as mãos de Eduardo Chillida, as fotos do loft de W. Eugene Smith deram o tom para as saborosas memórias de Eric Hobsbawm como crítico de jazz, e o impressionante relato de Maurice Blanchot espelhou sua comovente amizade com Jacques Derrida.¶ O mesmo se deu ao nos depararmos com as belas colagens do jovem artista paulista Felipe Cohen (1976): uma dialogava tão bem com a outra que optamos por embalar esta serrote em três capas diferentes, cabendo ao leitor a decisão de qual levará para casa – sendo permitido, é claro, escolher todas elas. É também novidade associar o nome do crítico Ronaldo Brito à rubrica “ficção”, o que acontece pela primeira vez nestas páginas com “Memórias Póstu- mas Jr.”, narrativa de sabor machadiano e pop, pontuada por gatos de Andy Warhol.¶ Mas quando a serrote pensa no futuro, não esquece o passado. Por isso, publicamos um extenso e pouco conhecido portfólio de Bea Feitler, artista gráfica brasileira radicada em Nova York que fez carreira na Harper’s Bazaar e em trabalhos antológicos com Richard Avedon e para a Alvin Ailey Dance Company.¶ Esta edição propõe ainda uma discussão que promete dar pano para manga: teria a música brasileira perdido sua consequência crítica e política? Marcos Nobre e José Roberto Zan argumentam que sim e chamam ao debate. Que, por sinal, tem muito a ver com a polêmica participação de Nuno Ramos, nosso constante colaborador, na 29a Bienal de São Paulo.¶ Afinidades, pois.
Paulo Roberto Pires