Carta dos editores

40 Anos

Os editores da serrote pensam que uma revista que sai de quatro em quatro meses também pode ser dar o luxo de ter suas efemérides. ¶ O texto que se segue foi escrito por E.B. White há 40 anos. ¶ O autor usa o plural, pois era na primeira pessoa do plural que saíam os artigos da seção “Notas e comentário”, da revista The New Yorker. ¶ serrote acredita que as poucas linhas deste texto – com o seu tom certo, sua simplicidade irônica e sua capacidade de aproximar de nosso cotidiano uma grande conquista da humanidade – são um grande presente para seus leitores.

Pouso na lua

E.B. White 26.07.1969

A lua é, no fim das contas, um bom lugar para o homem. ¶ Um sexto de gravidade deve ser muito divertido, e quando Armstrong e Aldrin se lançaram à sua animada dancinha, como duas crianças felizes, não foi apenas um momento de triunfo, mas também de alegria. ¶A lua, em compensação, é um lugar ruim para as bandeiras. ¶A nossa parecia dura e esquisita, tentando flutuar na brisa que não sopra. (Deve haver uma lição aí, em algum lugar.) ¶ É claro que faz parte da tradição dos exploradores fincar uma bandeira no solo, porém, enquanto assistíamos com reverência, admiração e orgulho, percebemos que nossos dois amigos eram homens universais, e não de uma só pátria, e deviam ter se equipado de acordo. ¶ À maneira de todos os grandes rios e mares, a lua pertence a todos e a ninguém. ¶Ainda traz o segredo da loucura, ainda controla as marés que banham as praias de todo o mundo, ainda vigia os amantes que se beijam por toda parte, debaixo de bandeira nenhuma, somente do céu. ¶É uma pena que, em nosso momento de triunfo, não tenhamos renegado a famosa cena de Iwo Jima e, em vez disso, plantado um emblema comum a todos: um lenço branco e frouxo, talvez, símbolo do resfriado normal que, como a lua, afeta a todos nós.