Carta dos editores

Número 1

 

Tremo quando examino o serrote. Murilo Mendes

 

O ensaio é um gênero sinuoso. Ele parece fácil, mas é um perigo. Um descuido – você rola abaixo em uma escada sem corrimão. ¶ O ensaísta sabe onde começar, mas nunca sabe onde acabar: o desvio, a vereda e a curva à beira do abismo são sempre um convite. Não se perder e não escorregar já seriam duas grandes coisas.¶O ensaio não tem pedigree. É um gênero que resiste às definições, cioso da sua condição de maverick. O espírito livre é quase tudo em um ensaio (alguém chamou isto de heresia). ¶ No Brasil, ele tomou forma acadêmica, o que é uma pena, pois fica sem o que tem de bom, a espontaneidade. Por causa dela, Vinicius de Moraes achava que o essay estava na origem da brasileiríssima crônica. O ensaio ideal poupa citações e supõe que as notas de rodapé são um terreno minado.¶Na década de 1990, o ensaio renasceu nos EUA, no vácuo do crescimento do interesse pela narrativa de não-ficção. Hoje em dia, no mundo literário americano, ele até se confunde com certo tipo de reporta-em mais pessoal. ¶ O Instituto Moreira Salles lança esta serrote por acreditar que, em sua multiplicidade de tons e vozes, o ensaio se fixou como gênero indispensável à reflexão e ao debate de ideias. ¶ serrote complementa as atividades do Instituto. Com espírito público e dotação privada, o IMS contribui ativamente para a vida cultural brasileira há quase duas décadas. Ao virar estas páginas, aliás, o leitor encontrará, aqui e ali, vestígios de seu inesgotável acervo. ¶ Os editores querem fazer desta quadrimestral um espaço para se publicar ensaios – originais, independentes, bem pensados e bem escritos – no Brasil. Quem edita a serrote tem como horizonte o espírito daqueles que viram, no ensaio, o jogo e a felicidade, e, no ensaísta, o homem liberto.

 

 

 

 

 

 

 

 

VIDA DIGITAL

O Google e o futuro dos livros, por ROBERT DARNTON

INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

Adeus ao Ford Bigode, por E.B. WHITE

Motores de Detroit, por EDMUND WILSON

200 ANOS DE DARWIN

O circo do Tennesse e Expondo um tolo, por H.L. MENCKEN

POLÍTICA INTERNACIONAL

Suharto sai de cena, por BENEDICT ANDERSON

LITERATURA

Os Aforismos reunidos de Franz Kafka, por MODESTO CARONE

O romance e a revista, por SAMUEL TITAN JR.

STEINBERG PACOTE EXCLUSIVO

Sair da linha, uma introdução a Saul Steinberg, por RODRIGO NAVES

Desenhos inéditos de SAUL STEINBERG

Steinberg, os Civita e o Brasil

Black Friday, por ALBERTO DINES

ARTES PLÁSTICAS

Pintura em suspensão, por HELOISA ESPADA

EXCLUSIVO Pancetti, por MARCEL GAUTHEROT

David, Marat, por CARLO GINZBURG

Música

Rugas: sobre Nelson Cavaquinho, por NUNO RAMOS

SEÇÕES

ALFABETO serrote

P de Passe, por TOSTÃO

S de Serrote, por FRANCISCO ALVIM

191 V de Verso, por ANTONIO CÍCERO

carta aberta

215 EXCLUSIVO De MÁRIO DE ANDRADE para Otto Lara Resende